Um dia
Você descobre que poucas coisas precisam ser feitas de imediato, para acabar no mesmo dia. Descobre que pode controlar a movimentação delas, a sacola plástica cheia de laranjas que estoura, a coisinha sumida que saiu do lugar sem que alguém tenha ajudado.
Você descobre que sair de perto e respirar talvez melhore e você volta e faz o que estava fazendo. Descobre que é importante no meio de um dia chato ou infrutífero dizer, vou bater um bolo, e, realmente fazer esse bolo; e dividi-lo; e comê-lo.
Descobre que todo mundo é realmente importante, mas não para você e sim para o mundo. Descobre que ladainhas podem salvar, podem mudar seu destino. Descobre que há um Deus vivo em você e não importa o nome dele, mas o buscará todo dia, toda hora. Percebe, mesmo a contragosto, que não há problema algum em sair de casa sem escovar os dentes, o cabelo e de chinelos de vez em quando.
O melhor amigo, você constata, não existe; você tem pessoas na sua vida, umas duradouras como o carvalho, outras, dente-de-leão. E descobre, infelizmente, muito, mas muito tarde que amar não basta. Gostar é pouco, amar é pouquíssimo. A gente caiu no engodo de relevar o coração, como se fosse ele o mais importante dos nossos órgãos, e passamos a vida desenhando corações e colocando-o em nossas relações; o mesmo para os verbos amar e gostar... hoje, priorizo outros órgãos e verbos.
Um dia você descobre que seu aniversário é data muito importante e hoje é o meu.
Suzana