Nepal

Voltei do Nepal e parece que fiquei em algum lugar entre lá e aqui. Vou escrever sobre essa viagem, meu sonho antigo de criança, meu único sonho, único desejo que tive. Não descobri no Nepal a razão dessa vontade, sei que foi quando estudava geografia, deitada no meu quarto na casa dos meus doze anos, mas a memória falhou, não sei o que foi tão específico. Estou num livro de estórias, na melhor ficção da minha vida. Quando saí do avião em Kathmandu era uma hora da manhã, estava uma noite fresca, deliciosa e eu respirei bem fundo para ver se gostava do cheiro da terra de Buda, e gostei, gostei de verdade, e eu ri. Dei-me essa viagem porque meus amores me decepcionaram, dei-me de presente o desejo da menina e não fui decepcionada, mas sim abençoada. Aquelas ruas, aquele povo, aqueles cheiros. Estou sem passado e sem futuro. Tudo é o agora, espaço delicioso onde descanso alheia.