Encontrei esta fotografia por acaso. É de agosto do ano passado. Cheia de esperança, tirei essa foto para enviar para mãe, para dizer que você estava bem, embora a realidade não fosse tão boa assim. Oito meses que você se foi. Oito meses nada bons. Oito meses, e a sua sobrinha disse ainda não acreditar. A morte passa com desgosto, mas eu entendi que tenho que me conformar porque não há outro jeito, você se foi. Ponto. Tenho usado seus batons, camisetas, cremes, perfumes, se estiverem usados, melhor ainda. R disse que estou assim porque eu nunca pensei que você fosse morrer, que a gente imagina perder só pai e mãe, nunca irmãos. Às vezes, penso que você foi esperta, partiu antes de ficar velha. Eu aqui definho dia após dia, e isso é inexorável. As minhas mãos estão bronzeadas e trincadas e hidratante nenhum resolve. Didith, já não sou mais a Vera Verão do seu coração. Sou uma senhorinha de pouca conversa, de olhar sempre distante, cada dia mais fora do mundo, avoada.
Eu fiquei, não morrerei jovem. Não sou mais Xovem, como diria G., mas caminho tentando manter boa postura e procuro deixar meus lábios ligeiramente desprendidos como se fosse sorrir. Saiba que estou mais conformada.
Beijo.
Suzana