Pelo meio da madrugada, ele acalmava e dormia. Eu então espiava a rua por um palmo de mão que ficava aberta a janela de correr. Via a igreja na parte mais alta do bairro de Santa Teresa. Via a noite. Como ela deve ser vista. Como tudo tem que ser visto, vendo. Transpondo o que se mostra no primeiro enxergar. As noites são lindas! E, por isso, eu escrevia, porque havia lindeza em mim. Havia lindeza em passar horas e horas acordada, cuidando dele. Naqueles dias, ali era o melhor lugar para se estar, dentro daquele hospital. E eu sabia disso, apesar do cansaço e da dúvida. Sinto saudades, muitas. Ele me chamava, "Menina, menina...". Eu respondia, "Não diga menina, diga Suzana, foi você quem me deu esse nome" e ria. Quando chegava bem perto e olhava-o, ele não tinha muito a dizer, ele só queria saber. Vivíamos.
Por Suzana Guimarães