EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


sábado, 25 de janeiro de 2025

Ainda estou aqui.


Até parece que eu não conhecia a história do Rubens Paiva, preso, torturado e morto em um quartel militar brasileiro. Até parece que não conheço as duas Fernandas, mãe e filha, e sempre fui fã delas. Até parece que posso me teletransportar para o passado e estar naquela casa, naquele Rio de Janeiro vivenciando com eles tudo aquilo. Pois foi assim, vários golpes certeiros na minha cara, no meu peito, tensa, numa sala pequena de cinema no centro de Los Angeles, eu deixei de ser eu, virei um vegetal esticado e seco naquela poltrona, doida para chorar, doida para ter novamente um manancial de lágrimas. Que filme, meu Deus! Graças ao Marcelo Rubens Paiva que deixou no papel o registro de tudo o que aconteceu e ao Walter Salles, um herdeiro bilionário, que nem precisa disso. Meu Deus! Como se não bastasse toda a perfeição do filme, no final vem a Fernanda Montenegro que, sem dar um pio, me joga longe, sacode todas as minhas células, me cala, me dá um nó na garganta. Até parece que eles ainda estão aqui, eternizaram-se.