EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?

Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020


segunda-feira, 15 de abril de 2024

Anos atrás, a secretária da escola do meu filho, me disse: você se comunica melhor que seu marido que fala Inglês fluente. Tenho realmente o dom da escrita e da fala e isso eu fui passando para meus filhos de forma natural, raríssimas vezes expliquei a jogada, o tom, o modo. LR diz, você fala até Chinês se preciso for. S, uma colega da faculdade na década de 1980, dizia: faz pedra falar...
Hoje, a minha filha e eu viajamos para outra cidade porque ela tinha um teste para fazer, mas alguém errou a data, eles ou nós, e não era o dia. Embora eu nada soubesse porque estive fora do país por longo tempo, decidi insistir, liguei para meu marido, ele confirmou que o dia era hoje, virei para AL e disse: vamos voltar e discutir essa questão - já estávamos no elevador. Ela me seguiu enquanto eu voltava ao escritório, dizendo: se você não quiser falar, eu falo. Ela é tímida e não gosta de parecer chata, eu a entendo, aos dezesseis anos ninguém é muito diferente disso. Para minha surpresa, ela começou a falar, usava as devidas pontuações, pausava na hora certa, era calma, porém precisa e chegou a questionar se haviam mudado a data no computador... Se ela me desenhasse naquele momento eu seria uma ninfa pisando areias macias em praias filipinas, um monge budista desmontando uma barraca de acampar, um atirador de facas guardando-as... meu lado esquerdo contemplava a paz do meu lado direito, minha respiração pausava entre o inspirar e o expirar... não precisei falar um A, estava tudo bem e perfeito, na verdade, entro nas questões porque não suporto o desenrolar imperfeito das coisas... dei um sorriso sem dentes para a secretária, falei bye bem mansinho e deixamos o escritório. A data continuou a mesma, não seria hoje realmente, mas nós já não éramos mais as mesmas.