A vida gira todo dia e elas então me procuraram. Não havia mais castelo nem mansões. Recebi a oferta de passear na Europa e ficar na casa de uma delas, desde que pagássemos o aluguel do apartamento, mas eu não estava planejando viajar, muito menos encontrá-las. Recebi também a oferta de fazer um tour com a francesa em Los Angeles e de receber a italiana em minha casa que ela chamou de coração. Juro que sentimos muita vontade de visitar um certo castelo, de dormir na chácara da Serra, juro que eu estava disponível, juro que não estou mais.
EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?
Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020
sexta-feira, 21 de julho de 2023
JURO
Éramos três mulheres, eu, a brasileira, a francesa e a italiana com filhos na mesma idade e maridos com relações de trabalho. Encontrávamos às vezes na casa de uma delas, em reuniões com muitas pessoas nos fins de semana. A francesa morava em uma mansão emprestada pela compania onde o marido trabalhava, e, em doze meses, trocou de carro treze vezes porque o marido também ganhava o uso sem ônus de dois carros. Eu não me sentia confortável com certas esnobações, mas meu filho gostava dos filhos delas e era conveniente o contato pois meu marido tinha os maridos das duas como clientes da empresa onde trabalhava. A italiana vendeu a casa que tinha na Itália para construir uma maravilhosa casa na Serra dos Macacos. Fomos lá uma vez para um almoço. A francesa ficaria com a família para pernoitar. Juro que sentimos muita vontade de ficar. A casa era um deslumbre, com piscina de água salgada, pomar, adega, no meio da mata... mas não havíamos sido convidados para passar o fim de semana. Tempos mais tarde, a francesa comprou um castelo em ruínas na Europa e deixou o Brasil. Meu marido não tinha mais contato com o italiano. A vida girou, meu filho já não via mais graça naqueles meninos e eu tive a minha filha. Não sei quem contou para as duas que eu estava na maternidade. Não teve planejamento porque a minha filha havia rompido a bolsa. A francesa estava a passeio no Brasil e decidiram aquelas duas me telefonar. A minha mãe atendeu, falou que eu estava no banho, elas desligaram e voltaram a me procurar mais tarde. Eu já estava de saída, mas insistiram em nos ver, queriam que eu fosse até a portaria da maternidade para mostrar a minha filha a elas. Assim, como? Se quiserem, venham até meu quarto ou me visitem em minha casa. Quanta audácia! Como se fosse uma ninhada de gatos! Perdemos contato. Mudamo-nos para os Estados Unidos.