Ontem, eu comecei um texto mentalmente, mas hoje eu não o tenho mais. Ontem, eu tinha um país, uma família e amigos, mas hoje eu não os tenho mais. Os amigos não eram amigos, o pai e a irmã se foram, e um irmão que dele ficou apenas a sua carcaça. O país levou um tabefe de outro, caiu no chão e grita silenciosamente por amor eterno.
Ontem, eu quis falar sobre dezembro de 2021, mas as obrigações e as distrações levaram-me para longe, ou foi o mal físico desconhecido que me tombou em pura covardia e na saída se intitulou luto? Não sei. Esse ano foi o mais longo da minha vida, o mais desfocado, alguém biruta me mirava por binóculos e ria.
Percebo que não sei falar do que vivi e nem sei se vivi. Talvez tenha tudo sido um lapso entre ontem e agora e eu perdida e desequilibrada tento manter ritmo num corpo já se desestruturando. No fundo, a gente deve ser só alma e nem sabe.