Não é a primeira morte da minha vida, não é a primeira vez que sofro ao perder uma pessoa, mas não consigo imaginá-la no céu ou no inferno, num hospital ou num campo. Para mim, ela não foi para lugar nenhum, embora não esteja mais aqui. Eu a vi crescendo comigo. Ela não foi um adulto já pronto para mim. Eu fazia planos de como cuidar dela na velhice... Todas as minhas crenças espirituais rolaram ralo a baixo; junto com minhas lágrimas.
EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?
Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020
quinta-feira, 16 de setembro de 2021
16 de setembro
Hoje faz um mês. Eu havia passado a noite ao lado dela, numa poltrona. Ela dormia, sedada. O CTI era silêncio quando cochilei sentada, entre cinco e cinco e meia da manhã. Sonhei com ela. Ela, em pé diante de mim também em pé, naquele pequeno espaço, entre a minha poltrona e a cama. Estava muito bonita, os cabelos mais curtos, mais jovem e mais magra, saudável, vestia uma blusa preta pintada com cores vibrantes, mangas longas transparentes. Acordei na poltrona assustada ao pronunciar o nome dela. Cinco horas depois, ela faleceu.