A história do Miguel Otávio lembrou-me outra.
Deixei meu filho, na época com sete anos, aos cuidados da terapeuta dele, junto com ela, na sala dela. Eu sempre esperava do lado de fora porque ela pedia para o pai ou mãe não entrar. Isso foi em Belo Horizonte. Só havia eu na sala de espera.
Certo dia, decidi ir ao supermercado a um quarteirão de distância do prédio comercial onde a terapeuta atendia.
No supermercado, senti que deveria voltar e depressa.
Enquando caminhava depressa, carregando uma pequena sacola, eu quis correr, mas eu estava grávida de sete meses.
Quando cheguei na portaria do prédio, o recepcionista estava segurando a porta do elevador para mim, sentado em sua cadeira, ele esticou o braço, puxou a porta e disse, "aberta para você."
O elevador estava vazio, fui direto para o andar do consultório.
Quando a porta se abriu, vi meu filho no corredor olhando para fora da janela de vidro. Ele havia me visto atravessar a rua em direção ao prédio. E um homem velho estava perguntando para ele se ele estava sozinho.
Isso me incomoda até hoje. Estou digitando com o coração disparado.
Meu filho entrou no elevador e fomos embora.
Passei a minha vida toda fugindo de assédios na rua, passei metade dela ou mais brigando por tudo e por todos, mas naquele dia, eu só quis ir para bem longe com meu filho. Eu estava grávida e por causa de muitas confusões que estava vivendo não poderia arrumar outra. Meu filho estava bem e comigo. Muitos disseram que eu deveria ter quebrado o pau, mas eu não podia.
Fixei meu pensamento no universo e agradeci. Cancelei as consultas com a terapeuta irresponsável. Contei o fato para meus amigos que a conheciam. Nunca mais a vi, graças a Deus.