Eu sei que a vida é isto, perceber, ver, confrontar e suportar os tumultos porque fazem parte dela, da vida, junto com as coisas boas, um conjunto a ser visto e vivido pacificamente. Viver como se não existissem as partes chatas, as pessoas ruins ou também chatas, as dificuldades. Mas, ó miséria humana! Como é difícil abstrair! Fingir que não vi! Fingir que não sei.
Minha liberdade mata-me. Ser livre pode sufocar neste mundo dos falsos. Tenho que disfarçar, fazer postura elegante, carinha boa, tudo porque assumi a minha existência, minhas escolhas, meus desafios, meus filhos, meu marido, minha condição financeira e intelectual, porque não escolhi o outro lado, não me vendi por bens materiais, não traí meus filhos, não os deixei para outros embalarem, não fingi amor, não mascarei a minha realidade... não adulo por necessidade de preenchimento, não puxo o saco de ninguém. Virei ermitã! Moro na copa da árvore e isso é livre e alguns me dizem que livres são os apegados, os que amam ideias.
Não sou boa. Não sou santa. Tenho pensamentos homicidas. O que me salva é manter esta postura controlada tão firmemente controlada que tornou-se hábito. É insistir na abstração. É escrever. Aqui, da copa, imagino voos, sou sonhadora. Que eu morra antes de ser óbvia.