Em minhas longas cartas mentais, eu sempre tinha o destinatário, silêncioso rapaz, moça ou velho, que era obrigado a ouvir sem dizer um só "a". Depois, passei a digitar esses textos - para dizer a verdade, nem sempre cartas. Não sou tão maluca. Eu não pensava: "Belo Horizonte, 3 de março de 2003. Querido ou querida, escrevo-lhe... e, por fim, um abraço, Suzana". Agora, digito para mim mesma. Estou tentando falar sozinha. Está sendo um desafio! É muito difícil. Mas, tenho todo o tempo do mundo, e aguardo esta sensação de morte que se instalou passar.
Sinto-me morta. Um hiato, a falha nos dentes da minha filha. Sinto-me silêncio de doer, um buquê de rosas abandonado em alguma esquina, que já não diz nada - nem o arranjo, nem a esquina; uma caixa toda ornamentada, só de enfeite. Uma voz calada, com lenço e éter, para anestesiar de vez. Sinto-me aquele silêncio que nos toma quando andamos sozinhos, à noite, por ruas desertas... O mundo todo calou a boca e ninguém me contou, daí, fiquei sem graça quando me vi falando sozinha, por isso, a mudez.
Mas, o monólogo sairá, no final do ano.
Eu disse que gostava de diários?
Março, 3