EU DISSE QUE GOSTAVA DE DIÁRIOS?
Fotografia, Suzana Guimarães
Data: Junho de 2020
domingo, 9 de março de 2025
Vitória Regina.
Quando eu soube de você, Vitória Regina, você já estava morta, embora ainda desaparecida. Assim como os outros, eu não pude ajudá-la. Sou uma velha, Vitória, e você tinha a idade da minha filha. Eu trocaria minha velhice, meu cansaço e desgosto por sua vida. Mas eu não fiz nada, ninguém fez. Você só queria trabalhar, comprar suas coisas, ter suas coisas. Da padaria, você conseguiu um emprego como operadora de caixa em um restaurante de Shopping. Você não poderia ter voltado para casa sozinha naquela noite, dois ônibus e um caminho íngreme num terreno acidentado por cerca de quinze minutos na escuridão total, mas o destino foi cruel, quebrou o carro do seu pai que a buscava sempre e lhe entregou feito um cordeiro para não sei quantos homens cruéis, misóginos, psicopatas, monstros. Desculpa, Vitória, ninguém lhe ajudou. Descansa deste mundo odioso. Ficaremos nós aqui, imprestáveis. E eu mais caquética e triste.
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